Saiba como o lixo produzido pelo Brasil pode ser transformado em energia
A transformação de resíduos em biometano impulsiona a transição energética, a economia circular e a descarbonização no país
O biometano é uma solução promissora para transformar resíduos em energia renovável — a energia que vem do lixo.
O Mundo Agro conversou com Lucas Urias, Diretor de Estratégia e Inovação do Grupo Multilixo, líder em gestão de resíduos privados em São Paulo e responsável pela operação da primeira usina de biometano off-grid do país, localizada em Jambeiro.

Mundo Agro: Como a transformação de resíduos em biometano contribui para a sustentabilidade ambiental?
Lucas Urias: A conversão de resíduos em biometano desponta como uma solução eficiente e estratégica para enfrentar os desafios climáticos e ambientais. Esse processo reduz drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, evitando a liberação de aproximadamente 170 mil toneladas de CO₂ por ano, ao capturar e transformar o biogás gerado no processo de decomposição dos resíduos em uma fonte de energia limpa, renovável e de baixo impacto. Além de substituir combustíveis fósseis, essa tecnologia amplia a valorização dos resíduos, transformando o aterro em uma estrutura ativa na geração de energia sustentável e na redução da pegada de carbono.
Mundo Agro: De que maneira usinas autossustentáveis, como a UTGR de Jambeiro, podem servir de modelo para outras cidades e países?
Lucas Urias: O modelo da UTGR comprova que é viável transformar resíduos em energia. Operando sem qualquer dependência da rede elétrica externa, a usina alia geração de energia limpa, gestão eficiente de resíduos e descarbonização em um único ecossistema. A usina se consolida como uma referência replicável para cidades, indústrias e governos que buscam acelerar a transição energética, reduzir custos operacionais e gerar valor ambiental, econômico e social de forma integrada.
Mundo Agro: Qual é o papel do Brasil na transição energética global, especialmente com a chegada da COP30?
Lucas Urias: O Brasil chega à COP30 como um dos grandes protagonistas da transição energética, impulsionado não apenas por sua matriz majoritariamente renovável, mas também pela capacidade de ampliar soluções como o biometano. Iniciativas como o da UTGR reforçam que o país tem tecnologia, escala e expertise para liderar modelos sustentáveis que combinem redução de emissões, desenvolvimento econômico e fortalecimento da bioeconomia, colocando o Brasil no centro das discussões globais sobre descarbonização.
Mundo Agro: De que forma o biometano pode impactar positivamente a matriz energética brasileira?
Lucas Urias: O biometano, assim como as demais formas de energia renovável, tem potencial para ser um divisor de águas na matriz energética nacional. Por ser uma fonte renovável, produzida localmente e de alta eficiência, ele reduz a dependência de combustíveis fósseis, especialmente no transporte pesado e na indústria. Dados do setor indicam que o biometano poderia suprir até 80% das frotas de veículos pesados no país, além de ser uma alternativa estratégica para aumentar a segurança energética, diversificar a matriz e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Mundo Agro: Quais são os impactos sociais e econômicos regionais gerados pela usina UTGR?
Lucas Urias: Além dos ganhos ambientais, a UTGR desempenha um papel estratégico no desenvolvimento social e econômico da região. A operação gera empregos qualificados, movimenta a cadeia produtiva local, fomenta o desenvolvimento tecnológico, apoia iniciativas de educação e conscientização ambiental em parceria com o poder público, como a Secretaria de Meio Ambiente de Jambeiro e promove o à energia limpa e competitiva para indústrias do Vale do Paraíba. O modelo também fortalece a economia circular, ampliando oportunidades de negócios baseados em sustentabilidade e inovação.
Mundo Agro: Como o projeto da UTGR integra os princípios da economia circular?
Lucas Urias: A UTGR é a materialização da economia circular. O que antes era resíduo hoje se transforma em energia limpa, combustível para frotas, insumos industriais e créditos de carbono. Todo o ciclo é estruturado para maximizar o reaproveitamento e minimizar descartes, promovendo um modelo produtivo regenerativo, onde os resíduos não representam um fim, mas um recomeço dentro da cadeia de valor.
Mundo Agro: O que torna a UTGR a primeira usina 100% autossustentável do Brasil?
Lucas Urias: A UTGR é a primeira usina 100% autossustentável do Brasil operando dentro do Aterro da própria Unidade de Tratamento e Gestão de Resíduos (UTGR) de Jambeiro, utilizando como fonte de energia o biogás gerado a partir da decomposição dos resíduos ali destinados. Antes da sua implementação, não existia no país um modelo capaz de integrar gestão de resíduos, geração de energia e produção de biometano em uma operação totalmente autossuficiente. Fomos pioneiros na adoção e desenvolvimento desse modelo no Brasil. Toda a planta é abastecida por um gerador de 1,2 MW, que garante energia para o funcionamento completo da planta, sem qualquer dependência da rede elétrica externa. Além disso, a unidade tem capacidade para produzir até 30 mil m³/dia de biometano, fornecendo energia limpa para empresas da região e para abastecer a frota do Grupo Multilixo. Essa integração fecha um ciclo produtivo que materializa, na prática, os princípios da economia circular, da transição energética e da descarbonização.
Mundo Agro: Como o Grupo Multilixo garante a eficiência e a segurança na produção de biometano?
Lucas Urias: O Grupo Multilixo opera sob o conceito de Aterros 4.0, que representa uma nova geração de aterros inteligentes, altamente tecnológicos, eficientes e alinhados às melhores práticas globais de sustentabilidade. A produção de biometano na UTGR é resultado da combinação robusta entre tecnologia de ponta, processos industriais de alta performance e uma gestão rigorosa em todas as etapas. Isso inclui controle preciso no manejo dos resíduos, monitoramento em tempo real de toda operação, rastreabilidade completa dos fluxos e aplicação de protocolos técnicos que garantem máxima segurança, eficiência energética e desempenho ambiental. Esse modelo não só assegura a estabilidade da operação, como também maximiza a geração de energia limpa e a entrega de valor ambiental, social e econômico.
Mundo Agro: Em que medida o abastecimento da frota com biometano reforça a estratégia de descarbonização?
Lucas Urias: O abastecimento da frota com biometano vai além de uma simples ação operacional; é uma demonstração concreta de como a economia circular gera resultados tangíveis na descarbonização. Esse modelo reduz significativamente as emissões da operação logística, diminui a dependência de combustíveis fósseis e serve como exemplo para o setor de transporte, mostrando que é possível combinar eficiência, sustentabilidade e competitividade econômica em larga escala.
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